Amor pelo Comércio

No século XVII a Amazônia foi ocupada por diferentes grupos: pelas expedições militares com o objetivo de proteger os domínios portugueses dos invasores ingleses, holandeses e espanhóis; pelos sertanistas que comercializavam as chamadas “drogas do sertão”; pelas tropas de resgate em busca de mão de obra indígena e pelos missionários que visavam o aldeamento e catequização dos índios. Núcleos, fortificações e missões foram criadas ao longo dos rios da Amazônia (Tapajós, Xingu, Negro, Madeira etc) e houve  ampliação dos territórios.

A História Econômica de Santarém tem seus primórdios nas atividades econômicas desenvolvidas pelos índios tupaius, que antes do conquistador português chegar realizavam a agricultura de subsistência, considerada a mais importante, segundo relato do escritor Felisberto Sussuarana. Este autor afirma que os principais produtos cultivados eram o algodão, o cará, a batata doce, o crajirú, o urucu, o cunambi, o timbó, a pupunha e, principalmente o milho e a mandioca. A pesca e o extrativismo animal também constituíam a economia local do período.

Desde o início da colonização, a economia do Município de Santarém sempre se caracterizou pelos diferentes ciclos que experimentou. As expedições militares dos conquistadores portugueses no século XVII trouxeram as missões religiosas e os colonizadores para a Amazônia. O primeiro ciclo econômico de Santarém foi o das “drogas do sertão” – na Amazônia – cacau, cravo, salsaparrilha, baunilha, manteiga de ovo de tartaruga, pimentas variadas, bálsamo de copaíba, puxuri, anil, guaraná. A mão de obra indígena foi primordial, pois os índios tupaius, além de exímios caçadores e pescadores, eram excelentes coletores das drogas do sertão.

As missões religiosas – comandadas pelos padres jesuítas – desempenharam importante papel nesse processo, pois dependiam dos incipientes recursos da sua produção econômica, resultado do comércio praticado abertamente com o reino de Portugal. Os índios colhiam as chamadas “drogas do sertão” nas matas (cacau, cravo, salsa e guaraná) e às margens dos rios, e armazenavam-nas nos próprios empórios dos Jesuítas, para em seguida serem embarcadas para a Europa, quando fosse possível. Além da coleta das drogas do sertão, outras atividades completavam a economia regional deste ciclo: a pesca, o plantio itinerante nas terras firmes e nas várzeas, a caça e a pecuária nos campos naturais.

A cultura do cacau – principal droga do sertão que até 1677 era colhido na mata nativa – foi a base econômica de Santarém por muitos anos, tanto que no século XVIII, a partir de 1734, a lavoura cacaueira passou a ser o principal produto de exportação, iniciando o segundo ciclo econômico, o Ciclo do Cacau. Data desta época o desenvolvimento da plantação do arroz, que também fora encontrado em estado nativo e transformado em cultura, o cultivo do café, do milho, do feijão, da mandioca, algodão e tabaco.

A historiadora Terezinha Amorim afirma em seu livro “Santarém: Uma Síntese Histórica” que existia um “animado” comércio no início do século XVIII: “Neste comércio era oferecida uma grande diversidade de produtos: peixe seco, peles de animais silvestres, drogas do sertão e quinquilharias indígenas que possibilitavam a circulação monetária na região”.

A economia do século XIX caracterizou-se pelo desenvolvimento da agricultura e do comércio, tendo como principais produtos comercializados a castanha, a salsaparrilha, a farinha, o peixe salgado, o cacau, o óleo de cumarú, a borracha e o algodão.

O algodão era exportado, através dos vapores para a Inglaterra, Portugal e Alemanha. O cumarú, utilizado pela indústria de medicamentos e cosméticos, era extraído do Vale do Tapajós e exportado para o exterior e outros centros do Brasil.

Mas o produto de maior aceitação no mercado mundial, no século XIX, foi, sem dúvida, a borracha. As extrações de látex eram provenientes do Alto Tapajós, próximo à Santarém e Alter do Chão. Este período é marcado pela urbanização da cidade e pelo crescimento da economia regional, sendo identificado como o terceiro ciclo econômico, o Ciclo da Borracha, impulsionado pela descoberta da vulcanização, em 1839, pelo químico Nelson Goodyear, transformando o produto em um bem de grande valor industrial para o setor automobilístico.

Banco de Crédito da Borracha (Foto: Arquivo PMS)

Banco de Crédito da Borracha (Foto: Arquivo PMS)

A supremacia deste produto se estendeu até a primeira década do século XX, quando aconteceu o declínio das exportações devido à entrada da borracha asiática nos mercados Americano e Europeu, causando uma crise econômica e social sem precedentes na história do Município, com impactos negativos no comércio, na agricultura, no emprego, no sistema de transporte fluvial etc.

No século XX, Santarém experimentou diferentes ciclos econômicos. Na segunda metade da década de 30 e início da década de 40, a cultura da juta se desenvolveu na região para atender os mercados interno e regional de fabricação de sacarias para embalagens de produtos diversos, inaugurando o quarto ciclo econômico, o Ciclo da Juta. As receitas do município foram incrementadas com a instalação de fábricas, pequenas indústrias e estabelecimentos comerciais. O livro “Santarém: Uma Síntese Histórica” registra: “A exportação de juta cresceu a partir de 1942, com um volume de aproximadamente 150.000kg anuais. No ano seguinte, o volume saltou para quase 630.000Kg, e, em 1944, para o equivalente a 820.000kg, a maior quantidade exportada de Santarém”.

Nos anos 40 o aumento das exportações de madeira foi significativo, tanto que num espaço de dez anos correspondeu a 50% das exportações do Município. Destacam-se nesta década a extração de sementes oleaginosas – o cumarú e castanha-do-pará – cujas exportações saltaram de 30.000 Kg, em 1940, para 70.000 Kg em 1942. As exportações de arroz e algodão ganharam novo impulso neste período, bem como a produção de borracha, que com o advento da segunda guerra mundial aumentou a procura internacional por este produto. No entanto, com o fim dos conflitos a demanda se retraiu novamente, não caracterizando um ciclo econômico.

Antigo trapiche de Santarém (Foto: Arquivo PMS)

Antigo trapiche de Santarém (Foto: Arquivo PMS)

Nas décadas de 50 e 60 a extração de pau-rosa possibilitou a instalação de três usinas beneficiadoras em Santarém e, segundo relato de pesquisadores, se houvessem políticas de incentivo técnico e financeiro o setor primário da economia teria sido mais dinâmico ao longo de décadas. Porém, este setor promoveu o crescimento das atividades comerciais e a implantação de pequenas indústrias e de usinas de beneficiamento de algodão e arroz.

Na década de 70 tivemos o quinto ciclo econômico, o Ciclo da Pimenta do Reino, desenvolvida pelos colonos japoneses. O Estado do Pará chegou a ser o maior produtor nacional neste período, marcado também pelo sexto ciclo econômico, o Ciclo dos Investimentos patrocinados pelo Governo Federal que viabilizaram a construção de estradas (BR-163/Santarém Cuiabá e BR-230/Transamazônica), do cais de arrimo, do aeroporto, a pavimentação de vias urbanas, a construção da rede de esgoto sanitário e das galerias pluviais, bem como implantou os projetos de assentamentos humanos, que promoveram o crescimento das atividades econômicas e o incremento da infra-estrutura urbana, das comunicações e do transporte.

Ao longo dessas décadas o modelo primário-exportador, baseado no extrativismo animal (criação de gado) e vegetal, não gerou agregados econômicos capazes de promover o desenvolvimento regional.

O extrativismo mineral correspondeu ao sétimo ciclo econômico, o Ciclo do Ouro, que ocorreu nos anos 80 e trouxe mudanças sócio-econômicas bastante significativas. Desenvolvida no Vale do Tapajós as atividades auríferas demandavam, de forma acentuada, bens de consumo e serviços do mercado santareno, que passou a canalizar a maior parte dos recursos financeiros da Região. Foi um período de crescimento acelerado da população na zona urbana, das atividades agropecuárias, comerciais, industriais e de serviços.

Os impactos do declínio deste ciclo provocaram uma crise profunda em nossa economia. Os anos 90 trouxeram novas reflexões quanto às desvantagens da economia depender de um modelo econômico primário-exportador com baixa capacidade de agregar valor e de gerar efeitos multiplicadores internamente, sem estimular a verticalização da produção.

A partir dessas discussões, do desenrolar dos fatos, do comportamento dos mercados e tomadas de decisões, a diversidade e diferentes vocações econômicas tornaram-se temas de estudos, debates políticos e foram criadas novas linhas de financiamentos e investimentos. Atualmente a economia de Santarém está assentada nos setores de comércio e serviços, no ecoturismo, nas indústrias leves e de beneficiamento (madeireiras, movelarias, olarias, panificadoras, agroindústrias, beneficiamento do látex, de arroz e castanha, casas de farinha, beneficiamento do pescado, torrefações, fábricas de refrigerantes, fábricas de gelo e sabão, marcenarias, pequenas unidades artesanais, vestuário etc) e, principalmente, no setor agropecuário, que segundo Lima, 2004, representou sozinho a maior participação do Produto Interno Bruto Municipal em 2003, (R$ 375 milhões), equivalente a 30,4%do PIB do Município.

De acordo com o estudo: Análise de Cenários da Economia Agrícola do Município de Santarém no Oeste do Estado do Pará, o economista José de Lima Pereira afirma que “o setor primário da economia local teve fundamental importância nos resultados do PIB municipal, passando de 28,5%, em 2002 para 33% em 2003, justificado pelos investimentos maciços na agricultura mecanizada (arroz, milho e feijão) e principalmente aos voltados para o mercado externo (soja, sorgo e milheto), que abastecem o mercado externo”.

Ressalte-se que em todos os ciclos produtivos quatro atividades econômicas sempre se desenvolveram e foram de grande relevância para a nossa economia: a pesca, a produção de madeira, a agricultura familiar e a pecuária, que merecem ser temas de estudos e pesquisas.

PESQUISA E TEXTO: Tânia Mara Moraes Amazonas – Economista da SEMPLAN e Pós-Graduada Em Planejamento do Desenvolvimento Regional Pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos/NAEA/UFPA  

BIBLIOGRAFIA

  • A História Social e Econômica da Amazônia. Violeta Refkalefsky Loureiro.
  • Amorim, Antônia Terezinha dos Santos. Santarém, Uma Síntese Histórica, 2000
  • ECONOMIA AMAZÔNICA. Revista de Atualizações Econômicas do Oeste do Pará. Faculdades Integradas do Tapajós – FIT. 2000
  • Instituto de Desenvolvimento Econômico-Social do Pará-IDESP. Cenários Sócio-Econômicos da Região Oeste do Pará (1992-2010).
  • Ministério das Minas e Energia. Programa de Integração Mineral em Municípios da Amazônia – PRIMAZ. Caracterização Municipal e Atividades que Capacitam a Gestão Territorial em Santarém, 1998.
  • Pereira, José de Lima. Análise de Cenários da Economia Agrícola do Município de Santarém No Oeste do Pará, 2004
  • Sussuarana, Felisberto. Santarém Antes da Sua Fundação. Programa da Festa de Nossa Senhora da Conceição (PFNSC). Santarém, 1991.
  • Globo.Com/www. No Tapajós.Com. O Primeiro Portal da Região, atualizado em 06/07/2005.

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